08/06/2020
Sucesso na remoção percutânea de cabos-eletrodos endocárdicos implantados há 18 anos utilizando ferramentas de extração.
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Os dispositivos de controle do ritmo cardíaco vem sendo cada vez mais implantados em todo o mundo, não apenas para bradicardia sintomática, mas também para o gerenciamento de arritmia e insuficiência cardíaca. Em paralelo ao aumento na terapia com esses dispositivos, é possível observar um aumento nas complicações a longo prazo e com isso, aumento na necessidade de extração do sistema e dos eletrodos.
A indicação mais comum para a extração dos eletrodos é a infecção. As aderências nos eletrodos implantados cronicamente podem se tornar os principais obstáculos à extração segura dos eletrodos. A extração percutânea de cabos-eletrodos ainda é considerada um procedimento de alto risco, com significativas taxas de morbidade e mortalidade > 11%. Entre suas complicações, destacam-se: morte, lesão de grandes vasos, perfuração atrial, avulsão de estruturas cardíacas, lesão de valvas cardíacas, e embolização sistêmica.
Nos últimos 20 anos, ferramentas e técnicas específicas para extração transvenosa foram desenvolvidas para ajudar a liberar o cabo do eletrodo das aderências, minimizando o risco de complicações no procedimento percutâneo. Embora o sucesso da extração de cabos-eletrodos seja dependente da experiência do médico e da disponibilidade de equipamentos adequados, também é especialmente dependente do tempo de implante dos cabos-eletrodos. A extração de cabos-eletrodos por abordagem percutânea pode ser realizada com segurança e eficácia quando utilizados material adequado e equipe treinada.
Sucesso na remoção percutânea de cabos-eletrodos endocárdicos implantados há 18 anos utilizando ferramentas de extração.
Lincoln José da Silva Júnior1, Marcel Fernando Silva Carvalho2, Juan Carlos Pachón Mateos3, Remy Nelson Albornoz Vargas4
RELATO DO CASO
Paciente do sexo feminino, com 23 anos de idade, com primeiro dispositivo implantado há 18 anos, um marcapasso unicameral com cabo-eletrodo de fixação ativa endocárdica.
A paciente foi submetida a troca do gerador por desgaste em 2002 e 2008. Em junho de 2016, a paciente foi submetida, a nova troca de gerador e implante de cabo-eletrodo atrial.
Após um mês, a paciente iniciou quadro de febre alta associada a calafrios, dor no sítio cirúrgico e deiscência da ferida operatória, com eliminação de secreção purulenta.
Procurou auxílio em hospital tendo sido iniciada antibioticoterapia. Durante a internação, foi identificada, na hemocultura, a presença de Staphylococcus aureus sensível à antibiótico terapia.
Estabelecido o quadro de infecção de loja com deiscência de sutura e extrusão do dispositivo, ficou definida a necessidade da extração de todo o sistema.
Por se tratar de um cabo-eletrodo com mais de 18 anos de implante, a equipe médica optou por tentar a extração dos cabos-eletrodos atrial e ventricular por via transvenosa com auxílio de equipamentos de extração
Depois de garantida a estimulação cardíaca, foi realizada incisão no bolso do marcapasso, extração do gerador, desconexão dos cabos-eletrodos, e limpeza do bolso com solução salina. Os cabos-eletrodos foram dissecados em direção à veia subclávia esquerda
O cabo atrial foi retirado completamente após tração direta simples, não apresentando maiores dificuldades.
Com o cabo ventricular de fixação ativa não retrátil, a extração iniciou-se pela utilização de um estilete com sistema de trava na luz do cabo-eletrodo Liberator Beacon (Cook Medical, Bloomington, Estados Unidos), Realizou-se a tração através da extremidade distal do estilete, com força contínua de intensidade moderada a grande, com sucesso na liberação.
No entanto, o cabo-eletrodo ficou travado no terço médio da veia cava superior, próximo à veia subclávia esquerda, sendo necessária a utilização de bainha de dilatação mecânica Evolution (Cook Medical). O sucesso obtido foi parcial.
Como não se conseguiu avançar com a bainha de dilatação, devido à resistência, optou-se por tentar a retirada do cabo-eletrodo por meio de um cateter-laço, Femoral Snare and Workstation – Cook Medical, pela veia femoral direita.
Nesse momento, realizou-se a apreensão do cabo-eletrodo e sua retirada por dentro da bainha extratora, sem nenhuma intercorrência.
Durante o pós-operatório, foi realizada ultrassonografia Doppler do membro inferior direito, que demonstrou ausência de qualquer complicação.
CONCLUSÃO
A extração de cabos-eletrodos de marcapasso ou CDI por abordagem percutânea pode ser realizada com segurança e eficácia, nos primeiros meses ou anos, sem maiores complicações, mesmo quando somente ferramentas básicas são utilizadas.
Nos casos de falha na retirada dos cabos-eletrodos por tração direta, a abordagem pela técnica femoral pode promover a extração completa e evitar intercorrências, com relato de sucesso em cerca de 95%.
O ideal é avaliar cada caso cuidadosamente, preparar-se para possíveis eventualidades e ter à disposição um amplo leque de equipamentos disponíveis, além de informar o paciente sobre os riscos e benefícios do tratamento e de envolvê-lo na decisão tomada.
REFERÊNCIAS:
Silva Junior, Lincoln José da; Carvalho, Marcel Fernando Silva; Mateos, Juan Carlos Pachón; Vargas, Remy Nelson Albornoz. Successful percutaneous extraction of endocardial leads implanted 18 years ago using extraction tools RELAMPA, Rev. Lat.-Am. Marcapasso Arritm ; 30(4): f:167-l:170, out.-dez. 2017. Ilus. Artigo em Português | LILACS, Sec. Est. Saúde SP, SESSP-IDPCPROD, Sec. Est. Saúde SP | ID: biblio-879947 https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-879947
Farooqi FM 1 , Talsania S , Hamid S , Rinaldi CA . Extraction of cardiac rhythm devices: indications, techniques and outcomes for the removal of pacemaker and defibrillator leads. Int J Clin Pract. 2010 Jul;64(8):1140-7. doi: 10.1111/j.1742-1241.2010.02338.x. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20642712
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